ancorada.» Assim discorre Mr. Villenave, que, com o seu douto commentador, não viu que a frota largou duas vezes: depois que desaferra das praias da Chaonia e que voga (provehimur pelago), passa os montes Ceraunios, ao pé dos quaes toma de novo terra (in litore sicco corpora curamus); foi dahi que Palinuro tornou a mandar soltar as vélas, e portanto[1] foi bem collocado pelo poeta o Tentamus viam, e o Provehimur pelago. Nove decimos, ao menos, das censuras feitas a Virgilio sam como esta.
522-553. — 542-576. — O padre La Rue, Delille e Mr. Villenave esclarecem estas differentes passagens. Os Troianos avistaram a Italia, tocaram n'um pôrto, que se julga ser o de Salento; em vez de tomarem o estreito do Peloro ou Capo di Faro, tomaram á esquerda, segundo os conselhos de Heleno, com medo de Scylla e de Charybdis; rodearam o Pachino ou Capo Passaro, e descobriram o Etna.
369-611. — 592-634. — Aqui ha uma lição de humanidade: Achemenides, inimigo de Troia e companheiro de Ulysses, he acolhido por Enéas, que o livra dos Cyclópes. Não me estenderei em gabos da pintura do Etna e da cóva de Polyphemo, superior á da Odysséa na opinião de todos; esta nota he para combater o Mr. Villenave ácêrca dos dous versos: «Ingens, quod torva solum sub fronte latebat, Argolici clypei aut Phebeae lampadis instar. «A comparação, diz elle, pécca menos pela exageração que pela inexactidão: como poderia o olho do gigante estar occulto sob a fronte, se assemelhava ao disco brilhante do Sol? Delille traduziu latebat por brilhava: razoavel infidelidade..... A comparação excede toda a medida ao estender-se ao disco do Sol. Que proporção dar-se pode entre o broquel de um soldado e o primeiro astro do universo?» Esta argumentação he especiosa. Trata Achemenides[2] de Polyphemo, na occasião em que o gigante com a vinhaça resonava e dormia, e quem dorme fecha os olhos; eis porque se occultava o olho sob a fronte coberto com a palpebra: se o compara ao Sol, he porque pouco antes o tinha visto brilhar, quando Polyphemo estava acordado; e a grandura conhecia-se mesmo por cima, e pelo tamanho da abertura em que o olho se achava mettido. Quanto á falta de proporção entre o broquel de um soldado e o Sol, seria boa a critica se a comparação fôsse com o verdadeiro disco do astro; mas he só com o disco apparente, que não he maior que um broquel, sôbre tudo no zenith. No livro II dos Martyres, Chateaubriand adoptou esta comparação, como aqui dou a lêr traduzida no homerico estilo dos versos de Francisco Manuel: «Emquanto estas razões do peito sólta Lastenes, para o lucido oriente Olympio, desce o Sol de Pholoe aos cumes; Como immovel alli suspenso pára, Qual broquel de ouro fôsse, e cresce em vulto.» Ora, o bom gôsto do maior epico