Página:Eneida Brazileira.djvu/11

Wikisource, a biblioteca livre
ENEIDA. — LIVRO I.
13

Na praia errantes; segue atrás o armento,
E enfileirado pelos valles pasta.
Retem-se, e o arco aferra e as settas ageis
Que armam Achates fido, e os guias logo,
205De arboreas pontas entonados, prostra;
Embrenha a demais turba e acossa a tiros,
Té que derriba sete ingentes corpos,
E iguala as naus. De vólta, elle os divide.
E os barris que, á partida, o heroe trinacrio
210Bom de vinho atestara, aos seus larguêa;
Dulcíloquo os mitiga: «Os males, socios,
Nada estranhamos; oh! mais agros foram:
Deus porá termo a estes. Vós de Scylla
De perto a raiva e escolhos resonantes,
215Vós cyclopeos rochedos affrontastes:
Animo! esse temor bani tristonho;
Talvez isto com gôsto inda nos lembre.
Por varios casos, transes mil, nos vamos
Ao Lacio onde o repouso os fados mostram:
220Resurgir deve alli de Troia o reino.
Tende-vos duros, da bonança á espera.»

Tal discursa, e affectando um ar seguro,
N’alma inferma suffoca a dôr profunda.
Lestos á presa atiram-se: este esfola,
225Aquelle desentranha, outro esposteja;
Qual trementes no espeto enrosca os lombos,
Qual fogo atiça aos caldeirões na praia.
Fartos, na relva espalham-se, refeitos
De velho baccho e veação opíma.

230Repleta a fome, e as mesas removidas,
Dubios indagam, sôbre os seus praticam
Entre medo e esperança: estam com vida?
Ou na extrema agonia ao brado surdos?
Mormente o pio rei de Amyco chora
235Ou de Lyco o desastre, o ardido Oronte,