Página:Eneida Brazileira.djvu/279

Wikisource, a biblioteca livre

Por onde e como desaloje os Teucros,
E no campo os derrame, idéa e pensa.
A frota, que ás trincheiras abrigada
Ondas fluviaes e marachões tornêam,
70Invade-a: péga de um flagrante pinho,
Provoca férvido os contentes moços;
Que, do exemplo incitados, arrebatam
Fachos, tições: enrolam-se nos ares
Cinza e fagulhas, fumo e piceo lume.
75Que deus, Musas, livrou do incendio os vasos?
Quem extinguiu, dizei-me, o fogo horrivel?
He prisco o facto, mas perenne a fama.
No Ida as naus quando Enéas construía
Para entregar-se ao pélago, assim contam
80Que a Jove orara a Berecynthia madre:
«O que, domado o céo, pedir-te venho,
Dá, filho, á tua genitriz querida.
Ha muito amo um pinhal, a mim dicado
Nesse gargaro cimo, umbroso e opaco
85De alvares troncos, de alentados bôrdos:
Leda o cedi para a dardania frota;
Hoje um temor solícita me rala:
Solve-o; possam comtigo as preces minhas,
As naus viagem nem tufão destroce:
90Valha o têrem nascido em nossos montes.»
O que as estrellas gyra: «[1]Ó mãe, responde,
Que fado exiges tu para estas quilhas?
Conseguir obra humana immortal vida!
Certo emprehender o Teucro incertos riscos!
95Tal potencia a que deus foi permittida?
Antes, o pôrto ausonio as que aferrarem,
Salvo a Laurento Enéas transportando,
A mortal fórma desfarei; que sejam
Maritimas deidades algum dia,
100E o ponto espumeo com seu peito rasguem,

  1. No original, não há aspas nesse lugar.