Página:Eneida Brazileira.djvu/319

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E estoquêa-lhe o peito, encêrro da alma.
Qual tufão grosso ou turbida torrente,
Feraes damnos o Dárdano espalhava.
Rompe emfim da muralha o moço Ascanio,
595Com seus guerreiros por demais cercados.
A Juno emtanto Jupiter: «He Venus,
Nem te enganas, consorte e irmã querida,
Que os Troianos sustenta: eil-os cobardes,
Sem denodo ou constancia nos perigos.»
600Aqui Juno submissa: «Ó doce espôso,
Temo os remoques teus, porque me apuras?
Se inda, como convinha, o amor d’outrora
Eu te inspirasse, um dom não me negaras,
Omnipotente: incólume ao pae Dauno
605Guarde eu Turno da acção... Mas que! pereça,
Devoto sangue aos Troas laste as penas.
Deduz comtudo o nome e origem nossa
Do tresavô Pilumno, e com frequencia
A plenas mãos cumula-te os altares.»
610Breve replíca o rei do Olympo ethereo:
«Se a Turno queres que eu prolongue os dias
E achas que o posso; pela fuga o salves
De instantes fados: atéqui me cabe
Condescender. Se encobres nessas preces
615Mór graça, e a guerra trastornar concebes;
Apascentas baldias esperanças.»
E ella em chôro: «O que a voz me cede a custo,
Se d’alma o désses, vida cheia a Turno!...
Mas transe o espera indigno, ou eu me illudo:
620Oxalá sejam falsos meus temores,
E tu, que o podes, a melhor te inclines.»
Dice, e de lá despara; de nevoeiros
Cingida, uma borrasca a precedel-a,
Baixa entre o campo ilíaco e Laurento.
625Logo em feição de Enéas, oh prodigio!