Página:Eneida Brazileira.djvu/34

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368. — 384. — Dux femina facti verteu João Franco: «Do feito a Dido sam as honras dadas.» He obvio que femina he essencial: a ousadia da empresa mais sobresahe por ser mulher quem a effeituou.

382-383. — 398-400. — Na antiguidade, os homens illustres se gabavam sem offenderem o decoro e o costume geral: como Ulysses na Odysséa; como ao depois Horacio e Ovidio; como, entre os modernos, Camões, Ercilla, Cervantes, Corneille, Antonio Diniz; como, em nossos dias, Bocage, Chateaubriand, Mr. de Lamartine, e outros: nota-se porêm que os mais chegados a nós o fazem com mais cautela e menos claramente. He a justificação de Virgilio e de Enéas.

434-440. — 452-459. — «A comparação, diz Delille, teria mais justeza e graça, a reconhecerem as abelhas de Virgilio, em vez de um rei, uma raínha.» O texto não falla de rei nem raínha: Delille he que em sua traducção introduz um rei das abelhas. Este engano veio de que o poeta romano nas Georgicas dá um rei com effeito ás abelhas; êrro do seu tempo, que foi reconhecido por experiencias modernas.

466. — 487. — «On ne peut que sentir ce vers, diz Mr. Villenave, en désespérant de le traduire. Si le poëte eût dit: sunt res lacrimabiles, c’eût été la même pensée; mais le sentiment se fût affaibli, une touchante image eût disparu. Il est donc des pensées communes qui deviennent grandes par la place d’un mot.» Concordo com a observação geral, não com o sentido em que he tomado sunt lacrimae rerum. Não significa só que ha cousas lagrimaveis, sim que das cousas restam lagrimas, ou por outra, que alli choravam-se as desgraças passadas e dellas fallavam os monumentos publicos; prova de que os Troianos estavam em terra policiada, e não em brenhas, como receara Enéas. Os selvagens, os barbaros, prantêam as desgraças presentes e lamentam seus males; mas sós os que já tem um certo grau de civilisação he que a seus monumentos encommendam o passado, e a perfeição dos monumentos segue a perfeição da intelligencia dos povos. Se pois o poeta, em vez de sunt lacrimae rerum, tivesse dito sunt res lacrimabiles, não desapparecia unicamente a imagem, desapparecia tambem o pensamento. Esta passagem, das mais sensiveis e maviosas que se encontram nos poetas sublimes, encerra ainda um acabado elogio das bellas artes, escolhido um só traço, mas o principal. — Camões, ingenho quasi igual a Virgilio, dice no mesmo sentido: «De que a memoria em lagrimas existe.» Ferreira, alma propria para sentir as bellezas dos antigos, dice: «Que ficam, senão prantos e saudades tristes, Daquellas cousas grandes que acabaram?» Ha um resaibo