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Página:Eneida Brazileira.djvu/48

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As gargantas e ruas pejam de armas:
O gume do aço agudo a ferir prestes
Nu lampeja: o combate apenas tentam
Das portas as primeiras sentinellas,
350E em cego marte resistir se atrevem[1]
O Otriades me instiga e ethereo influxo:
Vôo, entre o ferro e o fogo, onde a sinistra
Erynnis por mim chama, onde o bramido,
Onde o clamor nos astros retroando.
355Com Ripheu se me aggrega o extrenuo Iphito,
E em refôrço ao luar Dymas e Hypanis
Reconheço, e o Mygdonides Corebo;
Joven que, por Cassandra insano ardendo,
A Ilion pouco havia era chegado
360Em auxílio do sogro e do seu povo:
Ai! que a presaga voz descreu da espôsa.

Ao vêr tam nobre audacia: «Ó peitos, brado,
Fortissimos em vão, se a todo o extremo
Vosso anhêlo he seguir-me, o torvo aspecto
365Olhai das cousas. Deste imperio esteios,
Os deuses, desertando aras e templos,
Foram-se todos: á cidade accesa
Tarde accorreis: morramos, pelas armas
Rompamos. Salvação para os vencidos
370Uma, esperarem salvação nenhuma.»

Isto os provoca e atiça. Quaes rapaces
Lobos que, cegos de faminta raiva,
Sahem por nevoa escura, ávidas crias
De guelas sêccas nos covis deixando;
375De morrer certos, por dardos, por hostes,
Troia, abrindo caminho, atravessamos:
Circumvoa atra noite em ouca sombra.
Quem poderá contar o estrago horrendo,
Quem dessa noite as funebres tragedias,
380Ou lagrimas terá que a pena igualem?

  1. atravem no texto original; erro tipográfico corrigido na segunda edição.