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A aparição não me causou medo, apenas agitou-me como uma verdade enunciada. Foi um relâmpago que me fez entrever o Além. Mas fiquemos na música. Disseste, há dias, falando de Beethoven — que o achavas admirável, mas que o não entendias.

— Sim. Muitas das proclamadas belezas das sintonias passam-me despercebidas.

— É natural. Imagina-te chegado a um país teocrático e logo introduzido no templo onde se celebrasse, com toda a magnificência, a cerimônia mais solene da religião. Verias o interior do edifício majestoso, esplêndido nos seus mármores, ouros e pedrarias: verias ídolos colossais em altares suntuosos; verias os sacerdotes resplandescentes descrevendo, em silêncio, evoluções misteriosas: verias as sacerdotisas virgens bailando ao som dos sistros de bronze; ouvirias o deprecar da turba e ficarias apenas deslumbrado, mas não sentirias a emoção mística, por não compreenderes os termos da prece, a representação das danças, o valor dos atributos, o rito, enfim. À medida, porém que