— Tenho o manuscrito. A letra é desigual, nem sempre clara, mas como os nossos aposentos são contíguos, qualquer dúvida, não é verdade?... Não faço questão de preço.
— Preço? Como preço?
— Naturalmente, é um trabalho difícil, muito difícil.
— Não, mister... Não costumo traduzir. Nunca traduzi, se laço uma exceção é por simpatia, sem outro interesse.
— Oh! Não... Não...! O trabalho é difícil, muito difícil.
— Tanto melhor, ganharei com isso apurando-me no inglês.
— Ó...! O meu inglês...
— É então uma novela? Ele parou transfigurado, a boca semi-aberta, fitando em mim os grandes olhos tristes e, depois de um momento, disse em tom vago, sutil, como em confidência de amor.
— É... A minha... Novela. Um arrepio percorreu-me a espinha. Em voz surda e trêmula perguntei:
— Deve ser linda! Corou, deu de ombros,