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Quem sobre as ceruleas ondas
Não mira d’olhar bem fito,
Não póde vêr como eu vèjo
A Imagem do Infinito!
Não gosa da formusura
D’aurora no despontar,
Quando vem com meigo orvalho
Estes mares rociar!

No assomo da madrugada,
Ou no findar do seu dia,
Não póde em lyra doirada
Cantar a melancolia;
Porque nos aquosos plainos
Tem o sol outro fulgòr,
Inda mais bello e brilhante
De mais gallas e primôr!

E p’ra o coração singello
D’atro crime nunca heivado,
Tambem tem o mar prazeres,
Tambem é idolatrado; —
Porque d’alma vae scismando,
E sempre, sempre a pensar
Nos amigos que ficaram
Nessas terras d’álem-mar!