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Página:Espumas fluctuantes (corr. e augm.).djvu/74

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ESPUMAS FLUCTUANTES

Quem és tu? Quem és tu? — « Eu sou o genio.
Disse-me o anjo; vem seguir-me o passo,
Quero comtigo me arrojar no espaço,
Onde tenho por c′roas o arrebol.»

— Onde me levas, pois?... — «Longe te levo
Ao paiz do ideal, terra das flores,
Onde a briza do céo tem mais amores
E a fantasia — lagos mais azues...»
E fui... e fui... ergui-me no infinito,
Lá onde o vôo d′aguia não se eleva...
Abaixo — via a terra — abysmo em tréva!
Acima — o firmamento — abysmo em luz!

— Archanjo! archanjo! que ridente sonho!
— «Não, poeta, é o vedado paraizo,
Onde os lyrios mimosos do sorriso
Eu abro em todo o seio que chorou,
Onde a loura comedia canta alegre,
Onde eu tenho o condão de um genio infindo,
Que a sombra de Molière vem sorrindo
Beijar na fronte, que o Senhor beijou...»

— Onde me levas mais, anjo divino?
— «Vem ouvir, sobre as harpas inspiradas
O canto das espheras namoradas,
Quando eu encho de amor o azul do céo.
Quero levar-te das paixões nos mares,
Quero levar-te a dedalos profundos,