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sente e vê na Dor uma outra comprehensão da Dor e olha e palpa, tacteia um outro mundo de outra mais original, mais nova Dor.

O que canta Requiem eterno e soluça e ullula, grita e ri risadas bufas e mortaes no teu sangue, cálix sinistro dos calvários do teu côrpo, é a Miséria humana, acôrrentando-te a grilhões e mettendote ferro em brasa pelo ventre, esmagando-te com o duro cothurno egoístico das Civilisações, em nome, no nome falso e mascarado de uma ridícula e rota liberdade, e mettendo-te ferro em brasa pela bocca e mettendo-te ferros em brasa pelos olhos e dansando e saltando macabramente sobre o lodo argiloso dos cemitérios do teu Sonho.

Três vezes sepultada, enterrada três vezes, na espécie, na barbaria e no deserto, devorada pelo incêndio solar como por ardente lepra sidérea, és a alma negra dos supremos gemidos, o nirvana negro, o rio grosso e torvo de todos os desesperados suspiros, o phantasma gigantesco e nocturno da Desolação, a côrdilheira monstruosa dos ais, múmia das múmias mortas, crystalisação d′esphinges, agrilhetada na Kaça e no Mundo para soíírer sem piedade a agonia de uma Dor sobre-humana, tão venenosa e formidável, que só ella bastaria para fazer ennegrecer o sol,

′Sltil,.:.-.:.:.