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mata-me eu te supplico, oh! mata-me. — E pela face transida se derramavam prantos interminaveis...

— Não! Ladice, és o triumpho expressivo do lyrismo, e das germinações esplendidas... E´ preciso que vivas, oh! mulher immortal... Em suas mãos crispadas, endurecidas elle sustinha essa amorosa impenitente e exangue.

O corpo, a alma de Ladice fugiam collavam-se n´elle, colmavam-n´o, moravam n´elle. Ella lhe transmittia as pulsações, a melancolia, os suspiros, as incoherencias esplendidas e recebia delle em retorno as instancias dominadoras, a energia victoriosa, as magnificencias.

Unindo a mão á mão de Theophilo, palma a palma, detendo-lhe em os labios a fronte magnifica, dizia-lhe lentamente, á guisa de quem enuncia votos: "Guarda a minha exaltação; aprisiona a minha alma, fulge de eternidades os meus traços, serão os sylphos de tua Fidelidade... Rememora, rememora a minha paixão bravia, unica. — Ella se quedou immovel de olhos fechados, dando e recebendo selvatica, extrema, o seu eu e o de Theophilo.

Theophilo aturdido, vencido pelo romantismo, pela belleza singular, pelo desatino amoroso de sua amante lhe não penetrava em o senso das palavras e dos gestos. Elle as recebia como frutos sangrentos de uma sensibilidade anormal e divina. Exaltava-se em a vida e a morte, em os mysterios virgens, em os mysterios violados, em o que era e o que não era, que brandiam esse ser maravilhoso; segurava, retinha, es-