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descia... Ella deveria ir-se embora nesse instante mesmo... Francisco que fôra dar umas voltas pelo jardim em companhia de amigos não tardaria em chegar...

Meu Deus, como eram profundos e torturantes os appellos de seu sangue para esse amante que a natureza creara para a satisfacção de seus mysterios, das suas dôres, do seu mal incisivo...

Atenazavam-lhe o senso a mesma anarchia, a mesma incoherencia, a mesma insubordinação, das formas intermediarias para um fim, uma selecção, um limite...

De uma pallidez ardente, Ladice curvara-se sobre o balcão; suas mãos brancas se alongavam pela face á guisa de asas fechadas de garças somnolentas; as pontas dos dedos repuxando-lhe ligeiramente o canto dos olhos, emprestavam-lhe a feição, de quem soffre nostalgias deliciosas; a desolação a possuia total, em bando... Ella nada ouvia, immobil, queda, recolhida em si como noviços quando rezam, como os prophetas quando escutavam a voz Divina...

“Flôres!” — exclama alguem que se approximara.

Ladice estremeceu, assustada, alheiada.

Flôres... Repetiu ella inconsciente erguendo a cabeça e olhando o seu interlocutor.

Theophilo Fernão de Almeida com sua cabeça magnifica de poeta, ahi estava parado, so deante d´ella.