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Theophilo, bibliophilo consumado poz-se a examinal-o detidamente, a fazer-lhe a historia, a precisar-lhe particularidades...

Ladice na mesma posição analysava-lhe a pessoa com minucia. Quanta loucura lhe passava então pelo espirito: aprisionar entre as mãos essa cabeça magnifica, e acaricial-a suavemente, sinceramente, Mais e mais ella se inclinava... Os seus cabellos roçavam o casaco do poeta bem amado. Sua boca, seus olhos, seus braços se estiravam ao viez, contrahidos, ardentes.

— Peccado levas a humanidade á corrupção, agarras com a mão solida o coração incauto e submisso e o abandonas ao mal destruidor...

Quando o homem ainda não era no mundo, volteavas em as linhas suaves e ethereas do perfil de um deus, nos gestos infinitos e creadores de suas mãos bemditas e no vacuo immenso e informe e hiante que lhe jazia aos pés qual epopéa silenciosa aguardando o milagre: Eras então o nardo, a pureza, a doçura, a graça santa dos movimentos celestes...

Mas o homem veio, e a serpe e a colera divina. E tu surgiste, atirado ao mundo em imprecações, sob a ameaça de uma espada a relampear labaredas! Trouxeste a raiva, o estridor, o impeto de tua origem violenta. Tens agora em as cellulas, plasmas satanicos, ritos diabolicos; castigo e delicia do universo; vivos em os seres jovens á guisa de um bolbo incendiado que se extingue e se multiplica incessantemente. Tens em as pulsações, o furor de violinos febris, de