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e amorosos, o teu perfume grita tão forte na alma que chegamos a desejar a morte, á força de adorarmos a vida... Com certeza as nymphas do monte Ida, passaram, para as tuas petalas simples, as pulsações de seus corações, os rythmos estuantes de suas dansas. A primavera fez cair sobre ti, como uma bençam, a sua louçania, a sua ardencia, a sua diaphaneidade. Tens a impureza delicada da pouca idade, d´aquelles que ainda esperam a gloria de amar. A virgem que te aspira, perde um pouco de sua innocencia... A mulher que te aperta em as mãos, vira a cara de medo de se trahir... — Ahi elle parou e olhou-a. Ella se apoiara sobre o balaustre, todo o seu corpo se dobrava, se vergava, se inclinava, como um bambú, como um junco. Elle, o ermo, as suas palavras entravam-lhe em o coração quaes arpejos flammantes, qual hallucinação... O encantamento, a vertigem dos jardins de Shiraz rolavam-se-lhe pelos sentidos, á guisa de represas partidas, rotas... Calado, elle continuava a olhal-a, a sentir-se preso por esse ser fragil tão manifesto e intensamente perturbado... Elle via os seus corações agitarem-se desordenados, á semelhança de rutos rudemente sacudidos pelo vento que passa...

Sempre silencioso, Theophilo retirou-se para o salão, sentindo sua pessoa envolta em arcos de triumpho.

Ladice, sózinha, procurava, em vão, acalmar-se, seus olliares se alargavam pelo espaço: de um lado a natureza vigorosa, indomavel, estimulante em uma promiscuidade seductora se confundia, se sustentava, se unia, se tolerava jaqueiras umbrosas, austeras