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Francisco notou-lhe a falta de explosão, de reboliço, de sensação e poz-se a imaginar qual seria a razão de sua frieza. “Estará ella doente?” — ponderava elle. Francisco tinha por habito attribuir todas as mudanças de sua mulher á actividade febril de seus nervos, de sua sensibilidade, á debilidade de seu organismo. Vendo-a assim de perfil e séria, parecia-lhe estar mais pallida, mais fina: a curva dos hombros era quasi infantil... Mas ella inteira era um só fulgor, as suas linhas adelgaçadas eram ardentes, não manifestava o abatimento inherente ao enfraquecimento... e Francisco teve medo. Dir-se-iam os indicios, us signaes latentes de alguma molestia longa e insidiosa. Preso d´essa ideia, elle a acariciava como se fôra uma creança:

— Querem levar-te; porém, dissuadil-os-ei d´esse intento... Não irás sem mim... — E beijando-a — como poderia ficar sem a minha estrella radiosa? De resto, actualmente não me é possivel ausentar-me para muito longe: ha causas importantes que m´o impedem...

— Ir para a Europa agora, não desejaria tambem — ajuntou ella, lentamente.

— Si fizessemos uma villegiatura a Friburgo ou Petropolis, por exemplo?

— Petropolis? — repetiu Ladice involuntariamente, sentindo entrar-lhe pelo corpo vida nova.

— Sim, Petropolis, apraz-te a ideia? Poderemos passar la quatro mezes em um “cottage” rodeado de flôres e de arbustos... Far-te-á bem esta estadia em as montanhas...