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— Não, para todas as loucuras humanas — accrescentou Armando com lentidão.

— Por piedade não me diga essas palavras terriveis. Sou a mulher que diz não; ajuntou ella resoluta.

— E eu o homem que a adora e que sente a vida sumir-se... Vê, suffoco em orgias loucas esse meu amor insano. — E elle mostrava em os traços o desvio innegavel da paixão infeliz.

— Mas, meu Deus, por que ama uma mulher que o não o ama ?—Exclamou Ladice a se afastar decidida, para não mais ouvir phrases que lhe batiam em o ouvido como os cravos do martyrio, da traição.

Esse seu gesto enfureceu o elegante chronista ; trouxe á lume todo o fel ironico de sua natureza eivada.

— Tem razão, é a mais tola das necessidades de nossa condição humana... — Vendo João que entrava, abaixou-se, e fingindo observar as flôres — Oh! são bellissimas; algumas até desconhecidas para mim... Ha de todas as nuanças.— Tomando uma — Dalmada, acabo de dizer a D. Ladice que tenho o cravo como enormemente suggestivo... Queira reparar, é o nosso coração com toda a sua multiplicidade e os seus desdobramentos. — E em dizendo, rompeu o envolucro verde e espalhou sobre a mão, as suas petalas innumeraveis,

— Com a differença que os nossos desejos teem a febre da rapidez, — interrompeu João, sorrindo. — Emquanto abysmos os tragam, já novas auroras os engendram...

— Mas os meus teem intensidade permanente. —