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florirão... Serás, sobretudo, para os artistas, como aquella divindade grega, deante de cuja effige ninguem passava sem fazer um gesto de adoração.

O enthusiasmo de João a subjugava. Ladice, sem penetrar no amago das palavras que ouvia, sentia-se, entretanto, orgulhosa; a sua vaidade palpitava.

— Por emqtanto, não tens sombras, nem échos, nem vestigios de coisas que já foram vivas... E's ainda fruto muito verde... és luz intensa...

Ladice era sensivel á fascimação mysteriosa d'essas phrases, mas em seu intimo repetia: “Eu sou a Doida de meu Poeta” e alto exclamou:

— Sou o beijo de Magdalena, a arder nos pés de Christo...

— Retém, porém, o que elle ha de melhor: fidelidade eterna... — parecia-lhe dizer o que guardava em o pensamento “E's o beijo mystico, és o beijo peccaminoso”.

A subtileza de Ladice o emmaranhava inconscientemente:

— O mundo, com todo o seu mal victorioso e o seu vicio triumphante, as suas injustiças e aberrações, é, em todo caso, preferivel ás doçuras de um convento...

— Imagina tu, Jean, uma freirinha de porcellana, a fazer flôres pela manhã, e, á tardinha, a dobrar-se ante o Crucificado qual flexazinha de onro, a dizer: — “Morri por vós”... Vem cá, Dinah, responde — Dinah chegára é porta — a ver tudo através de olhares de beatitudes seraphicas, como os da São Boaventura. — Ella se recordára de seu confessor.