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Eram em as paginas de: seu “Diario” intimo que, ás vezes, Ladice, em traços largos, vincava a sua dôr:

“Junho:

Uma bôca fria, que deverei beijar!! Pertencer a um homem que, quando me diz sim, todo o meu sêr grita não, não, não... que horror!....

Parece-me que, quando perder o amore alojar a amizade, elle, o dr, Assis, só terá a quietude vazia de lampada apagada...

Seu olhar hoje, para mim, dizia-me: “adoro-te”, devolvi-o intacto; soffreu o movimento de ricochete...

Emquanto o olhava hoje, pensei: “que triste fado o meu... olhar para um homem como se olha para um muro, um movel, uma porta... a nuvem que passa, o horizonte, o arvoreda me interessam mais: teem um além, que minha curiosidade deseja...”

Tolo, entre mim e ti ha uma radiosidade e uma possibilidade: Theophilo ou um outro amor...”

Em sua alma principiavam: de vicejar ascabiesas, nostalgias estereis, cinzentas...

Da alegria ruidosa, das tardes escorregadias, das paisagens aprisionadas de sol, dos éstos interdictos e loucos, que moram na propria vida, Ladice extrahia melancolias acerbas, roazes; saudades do que deveria ser...

Certa noite, encarando um céo ardente, onde, já deformado, um crescente se embutia, á feição de legenda meio gasta pela civilização, ella inquiriu sua prima: