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cencia, despida, atra encarnando no verdor do campo, o riso de um demonio... As lagrimas corriam-lhe quentes, doridas, abundantes; seus pés, suas mãos, seus nervos torciam-se, voltavam-se; pelos cabellos passava-lhe a tristeza dos males pathologicos, das asas que pendem; seu coração entregava-se a todas as tragedias da imaginação... Ella sentiu até aos ossos, até ás cellulas, um arrepio de terror, um arrepio algido, um arrepio de morte, ao pronunciar as palavras: nunes mais. Parecia-lhe que o corvo de E. Poë sacudia ao redor della seus açacalados remigios seculares. Ladice estremeceu, teve medo, levantou-se.

Ao entrar em os aposentos de sua mãe, abriu os braços e exclamou, sorrindo: — “Consummatum est.” E ella creu escutar o estrondo amortecido das trevas, suffocando as horas luzentes de sol, quando um Deus expirou.

Os beijos, os abraços que recebia lembravam-lhe as flôres, as corôas, as escabiosas que se atiram nos mortos...

Ladice desconheceu o deslumbramento da vida da mulher — o noivado de amor — essa ponte de ouro, que liga um céo a outro céo, as flammas de um horizonte, as rosas roseas da aurora...O noivado entra no senso humano com frenesis, ardideza, lyrismo, febres, pausas de rythmo... E´ o desejo inexoravel, virente, immensuravel, para o triumpho, a luz, a eternidade... E´ o desejo morbido, ebrio, estonteante do beijo dado hoje e já do de amanhã... E´ o desejo rubente, convulsivo, dansante, de um sim a outro