— Como poderia ser o meu irmão mais velho, se sou filho unico?
O lobo, furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veiu com uma razão de lobo faminto:
— Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E — nhoc! — sangrou-o no pescoço.
— Estamos diante da fabula mais famosa de todas, declarou dona Benta. Revela a essencia do mundo. O forte tem sempre razão. Contra a força não ha argumentos.
— Mas ha a esperteza! berrou Emilia. Eu não sou forte, mas ninguem me vence. Por que? Porque aplico a esperteza. Se eu fosse esse cordeirinho, em vez de estar bobamente a discutir com o lobo, dizia: “Senhor Lobo, é verdade, sim, que sujei a agua deste riozinho, mas foi para envenenar tres perus recheados que estão bebendo ali em baixo”. E o lobo, já com agua na boca: “Onde?” E eu, piscando o olho: “Lá atrás daquela moita!” E o lobo ia ver e eu sumia...
— Acredito, murmurou dona Benta. E depois fazia de conta que estava com uma espingarda e, pum! na orelha dele, não é? Pois fique sabendo que estragaria a mais bela e profunda das fabulas. La Fontaine a escreveu dum modo incomparavel. Quem quiser saber o que é obra prima, leia e analise a sua fabula do Lobo e o Cordeiro.