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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/148

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As Duas Panelas

Duas panelas, uma de ferro, orgulhosa, outra de barro, humilde, moravam na mesma cozinha; e como estivessem vazias, a bocejarem de vadiação, disse a graúda:

— Bela tarde para um giro pela horta! A cosinheira não está, e até que venha teremos tempo de dizer adeus á alface e fazer uma visita aos repolhos. Queres ir?

— Com todo o prazer!... respondeu a panela de barro, lisonjeadissima da honrosa companhia.

— Dá-me o braço então, e vamo-nos depressa antes que “ela” venha.

Assim fizeram, e lá se foram as duas, desajeitadonas, gingando os corpos ventrudos, cheias de amabilidades para com as hortaliças. “Bom dia, dona Couve!” “Comendador Repolho, como passa?” “Coentrinho, adeus!”

No melhor da festa, porém, a panela de ferro falseou o pé e esbarrou na amiga.

— Ai que me trincas! exclamou esta.

— Não foi nada, não foi nada

— Uns passos mais e novo choque.

— Ai que me desbeiças, amiga!

— Em casa arruma-se, não é nada.

Minutos depois, terceiro esbarrão, este formidavel.

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