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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/34

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Silencio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação.


Dizer é facil; fazer é que são elas!

— Que historia essa de gato “fazendo sonetos á lua”? interpelou a menina. A senhora está ficando muito “literaria” vóvó...

Dona Benta riu-se.

— Sim, minha filha. Apesar do meu desamor pela “literatura”, ás vezes faço alguma. Isso aí é uma “imagem literaria”. A Lua é um astro poetico, e quando um gatinho anda miando pelo telhado, um poeta pode dizer que ele está fazendo sonetos á Lua. E’ uma bobagenzinha poetica.

— “Desamor pela literatura”, vóvó? extranhou Pedrinho. Então a senhora desama a literatura?

Dona Benta suspirou.

— Meu filho, ha duas especies de literaturas, uma entre aspas e outra sem aspas. Eu gosto desta e detesto aquela. A literatura sem aspas é a dos grandes livros; e a com aspas é a dos livros que não valem nada. Se eu digo: “Estava uma linda manhã de ceu azul”, estou fazendo literatura sem aspas, da boa. Mas se eu digo: “Estava uma gloriosa manhã de ceu americanamente azul”, eu faço “literatura” da aspada da que merece pau.

— Compreendo, vóvó, disse a menina, e sei dum exemplo ainda melhor. No dia dos anos da Candoca o jornal da vila trouxe uma noticia assim: “Colhe hoje mais uma violeta no jardim da sua preciosa existencia a gentil senhorita Candoca de Moura, eburneo ornamento da sociedade itaoquense”. Isto me parece literatura com dez aspas.

— E é, minha filha. E’ da que pede pau...

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