— E como queria que eu dissesse, minha filha?
— Para estar bem com a gramatica, a senhora devia dizer: “Deixa estar que eu já te curo!”
— Muito bem. Gramaticalmente é assim, mas na pratica não é. Quando falamos naturalmente, o que nos sai da boca é ora o você, ora o tu — e as frases ficam muito mais jeitosinhas quando ha essa combinação do você e do tu. Não acha?
— Acho, sim, vóvó, e é como falo. Mas a gramatica...
— A gramatica, minha filha, é uma criada da lingua e não uma dona. O dono da lingua somos nós, o povo — e a gramatica o que tem a fazer é, humildemente, ir registrando o nosso modo de falar. Quem manda é o uso geral e não a gramatica. Se todos nós começarmos a usar o tu e o você misturados, a gramatica só tem uma coisa a fazer...
— Eu sei o que é que ela tem a fazer, vóvó! gritou Pedrinho. E’ pôr o rabo entre as pernas e murchar as orelhas... Dona Benta aprovou.
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