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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/65

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— Basta que abandone esse viver errante, esses habitos selvagens e se civilize, como eu.

— Explique-me lá isso por miudo, pediu o lobo com um brilho de esperança nos olhos.

— E’ facil. Eu apresento você ao meu senhor. Ele, está claro, simpatiza-se e dá a você o mesmo tratamento que dá a mim: bons ossos de galinha, restos de carne, um canil com palha macia. Além disso, agrados, mimos a toda hora, palmadas amigas, um nome.

— Aceito! respondeu o lobo. Quem não deixará uma vida miseravel como esta por uma de regalos assim?

— Em troca disso, continuou o cão, você guardará o terreiro, não deixando entrar ladrões nem vagabundos. Agradará ao senhor e á sua familia, sacudindo a cauda e lambendo a mão de todos.

— Fechado! resolveu o lobo — e emparelhando-se com o cachorro partiu á caminho da casa. Logo, porém, notou que o cachorro estava de coleira.

— Que diabo é isso que você tem no pescoço?

— E’ a coleira.

— E para que serve?

— Para me prenderem á corrente.

— Então não é livre, não vai para onde quer, como eu?

— Nem sempre. Passo ás vezes varios dias preso, conforme a veneta do meu senhor. Mas que tem isso, se a comida é boa e vem á hora certa?

O lobo entreparou, refletiu e disse:

— Sabe do que mais? Até logo! Prefiro viver magro e faminto, porém livre e dono do meu focinho, a viver gordo e liso como você, mas de coleira ao pescoço. Fique-se lá com a sua gordura de escravo que eu me contento com a minha magreza de lobo livre.

E afundou no mato.




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