Saltar para o conteúdo

Página:Fabulas (9ª edição).pdf/84

Wikisource, a biblioteca livre

A mamãe-rata assustou-se e disse:

— Como te enganas, meu filho! O bicho de pêlo macio e ar bondoso é que é o terrivel gato. O outro, barulhento e espaventado, de olhar feroz e crista rubra, o outro, filhinho, é o galo, uma ave que nunca nos fez mal nenhum.

As aparencias enganam. Aproveita, pois, a lição e fica sabendo que —

Quem vê cara não vê coração.

Emilia fez cara de piedade.

— Coitadinho! Era duma burrice sem par. Farejou o gato! Um ratinho a farejar gato! Acho isso um absurdo. Só se era um gato morto...

— Por que absurdo, Emilia?

— Porque o visconde diz que os animais do “naipe” dos ratos já nascem sabendo o que é gato. Adivinham gato pelo cheiro. Porisso digo: ou o gato estava morto ou o ratinho estava endefluxado...

Dona Benta explicou que os fabulistas não têm o rigor dos naturalistas e muitas vezes torcem as coisas para que a fabula saia certa.

— Boa moda! exclamou Emilia. Errar dum lado para acertar do outro...

Narizinho disse que os poetas usam muito esse processo, chamado “licença poetica”. Eles sacrificam a verdade á rima. Os fabulistas tambem são poetas ao seu modo.

—87