filhos já crescidos, robustos e de dentes arreganhados, recebeu-a com insolencia:
— Quer a casa? Pois venha toma-la, se é capaz..
— Otima, vóvó! exclamou a menina. Gostei. Esta fabula merece grau dez.
— E me faz lembrar o mata-pau, disse Pedrinho. O mata-pau é assim. Nasce numa arvore, todo humildezinho e fraquinho; mas vai crescendo, crescendo, e um dia estrangula a arvore que o acolheu.
Dona Benta explicou que aquela fabula punha em foco a ingratidão, sentimento muito comum entre os homens. E citou varios ingratos ali das redondezas.
— Em materia de dinheiro ha muita ingratidão assim. Um sujeito vem pedir um emprestimo. Vem de chapeu na mão, humilde como essa cachorra. Assim que se pilha servido, dá o coice.
Emilia achou otima a moralidade da fabula: “Para os maus, pau!”
— Isso mesmo! Pau no lombo deles!
— A dificuldade, Emilia, está em conhecermos quem é o mau. Eles sabem disfarçar-se. Apresentam-se como essa cachorra, todo cheios de diminutivos — um “cantinho”, uma “comidinha”, um dinheirinho”... E como havemos de adivinhar que isso é um disfarce, um preparo do terreno?
— Como? disse Emilia. E’ boa!... Pelo diminutivo. Assim que um freguês vier com “inhos”, é a gente ir pegando no pau e lascando...
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