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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/92

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Os Dois Ladrões

Dois ladrões de animais furtaram certa vez um burro, e como não pudessem reparti-lo em dois pedaços surgiu a briga.

— O burro é meu! alegava um. O burro é meu porque o vi primeiro...

— Sim, argumentava o outro, você o viu primeiro; mas quem primeiro o segurou fui eu. Logo, é meu...

Não havendo acordo possivel, engalfinharam-se, rolaram na poeira aos socos e dentadas.

Enquanto isso um terceiro ladrão surge, monta no burro e foge de galope.

Finda a luta, quando os ladrões se ergueram, moidos da sova, rasgados, esfolados...

— Que é do burro?

Nem sombra! Riram-se — risadinha amarela — e um deles, que sabia latim, disse:

Inter duos litigantes tertius gaudet, que quer dizer: quando dois brigam, lucra um terceiro mais esperto.


— Isso já me aconteceu uma vez, disse Pedrinho. Briguei lá na escola por causa duma pera, e quando terminou a briga, que é da pera? Estava no papo do Zézico, filho do Tótó padeiro.

— E você deu tambem a tal risadinha amarela...

— Dei mas foi um tal murro no ladrão que ele quasi vomitou a pera. Quem riu amarelo foi ele.

— Que adiantou? Ficou do mesmo jeito sem a pera.

— E o gosto? Uma fórra dessas vale tres peras.

Emilia concordou.

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