dou lá comsigo que sabia illudir os cães de mil maneiras, ora fingindo-se de morta, ora escondendo-se nas folhas seccas, já disfarçando as pegadas, já correndo em zig-zag. Recordou todos os seus truques classicos. Ennumerou-os. Chegou a contar noventa. E chegaria a cem si o rumor duma acuação lhe não viesse interromper os calculos.
— Está ahi a cachorrada! disse o gato, marinhando pela arvore acima. Applica lá os teus innumeraveis recursos que o meu recursozinho unico já está applicado.
A raposa, perseguida de perto, disparou como um foguete pelos campos afóra, pondo em pratica, um por um, todos os recursos da sua collecção.
Mas foi tudo inutil. Os cães eram mestres; não lhe deram tregoas, inutilisaram-lhe as mais engenhosas manhas e acabaram por ferral-a.
Só então se convenceu a raposa — muito tarde!... — de que é preferivel saber bem uma coisa só do que saber mal-e-mal noventa coisas diversas.