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348 S. A. Sisson

prendiam à velha metrópole. A imensidade do território da colônia, o exemplo da América Espanhola, que se havia constituído em repúblicas independentes, a nossa riqueza consideravelmente aumentada pelo franqueamento dos nossos portos ao comércio estrangeiro, o estado de decrepitude em que se achava Portugal, tudo isso, além de outras causas, favoreceu a realização do pensamento da independência.

Realizada porém a independência, tínhamos de fazer uma outra conquista não menos preciosa, e sem a qual a primeira perderia notavelmente sua importância; restava-nos a nossa organização interna como povo livre; restava-nos o estabelecimento de instituições liberais que nos assegurassem a conquista que havíamos feito e que fossem o penhor do progresso, do engrandecimento e da felicidade do Brasil no futuro.

O segundo período tornou-se notável pelas lutas, pelas comoções intestinas que agitavam o seio da nova nacionalidade que tratava de constituir-se sobre a sólida base da liberdade. O combate foi rude. A Providência porém, que vela incessante sobre os destinos das nações, não deixa de fornecer-lhes meios que estejam em harmonia com a grandeza dos fins a que ela se propõe.

Se a obra da fundação do sistema representativo entre nós era uma empresa trabalhosa, cheia de toda a sorte de dificuldades; se a criação de instituições em que predominassem os princípios liberais, a que aspirava a nossa população, tinha de sofrer tenaz oposição da parte dos homens reatores, amigos do regime que a nação havia condenado, cumpre reconhecer que não nos faltaram espíritos fortes, homens enérgicos e patrióticos, que dedicaram toda a sua existência à realização da idéia liberal, e que colocaramse na altura da luta que se travou.

O Brasil, no último decênio do século XVIII e no primeiro do atual, foi fecundo em homens notáveis, em cidadãos cheios de patriotismo. Foi nesse período que nasceram todos, ou quase todos esses varões que prepararam e realizaram a revolução de 7 de abril; que lutaram durante a menoridade; que resistiram à reação nos primeiros anos da maioridade, que deram enfim provas do patriotismo o mais puro e desinteressado. A essa plêiade brilhante pertence o cidadão cuja vida vamos esboçar a traços largos. José Antônio Marinho não é um desses nomes que a indiferença dos contemporâneos possa esquecer rapidamente. Sua existência