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350 S. A. Sisson

que se achavam, ofereceu-se imediatamente para suprir a falta do ator, alegando que sabia todo o papel por ter assistido aos ensaios.

Depois de muita hesitação foi aceito seu oferecimento. Ninguém entretanto esperava que o improvisado ator pudesse desempenhar o papel de um modo satisfatório. Em breve porém mudaram todos de opinião. O papel foi representado muito melhor do que o teria sido pelo ator que o estudara.

Essa extraordinária felicidade de memória, a compreensão que o jovem Marinho mostrou da ação dramática, impressionaram a todos e deram a mais alta idéia dos seus talentos.

Um fazendeiro a quem Marinho se dirigiu resolveu-se então a mandá-lo a Pernambuco, sede da diocese a que pertencia o Salgado, a fim de fazer os estudos necessários para o estado eclesiástico. Pouco tempo depois seguia o jovem Marinho pelo interior até a cidade de Pernambuco, munido de cartas de recomendação para o bispo, que o admitiu como seu fâmulo.

Prosseguia ele pacificamente em seus estudos quando rebentou em Pernambuco a revolução republicana de 1817. Alma ardente, cheia de aspirações democráticas, sonhando um futuro de liberdade e de progresso para sua pátria, o jovem estudante não hesitou em abraçar a idéia da revolução, e em trocar a samarra de fâmulo do palácio episcopal pela farda de soldado da liberdade. Assentou praça e acompanhou a fortuna dos seus com toda a fidelidade. Em breve deram-lhe o posto de alferes, que serviu até que a revolução fosse de todo vencida.

Derrotados os republicanos, o jovem estudante viu-se em grandes embaraços para continuar os seus estudos, pois, comprometido como estava, não podia mais voltar à capital. Tomou pois a resolução de regressar à sua província, onde talvez pudesse um dia concluir seus estudos e entrar para a carreira a que se propunha.

É curiosa e das mais interessantes a história dessa viagem que então fez o jovem Marinho, através de um imenso sertão, só, sem recursos pecuniários e sujeito a mil contrariedades. Admira que um jovem de 14 anos tivesse coragem para fazer tão longa viagem afrontando tantos obstáculos.

Chegando à vila da Barra, que então pertencia à província de Minas, foi convidado por uma respeitável senhora para fixar-se aí e encarregar-se da educação de seus filhos.