Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/14

Wikisource, a biblioteca livre
12
GRACILIANO RAMOS


Aqui sentado á mesa da sala de jantar, fumando cachimbo e bebendo café, suspendo ás vezes o trabalho moroso, olho a folhagem das laranjeiras que a noite ennegrece, digo a mim mesmo que esta penna é um objecto pesado. Não estou acostumado a pensar. Levanto-me, chego á janella que deita para a horta. Casimiro Lopes pergunta se me falta alguma coisa.

— Não.

Casimiro Lopes acocora-se num canto. Volto a sentar-me, releio estes periodos chinfrins.

Ora vejam. Se eu possuisse metade da instrucção de Magdalena, encoivarava isto brincando. Reconheço finalmente que aquella papelada tinha prestimo.

O que é certo é que, a respeito de letras, sou versado em estatistica, pecuaria, agricultura, escripturação mercantil, conhecimentos inuteis neste genero. Recorrendo a elles, arrisco-me a usar expressões technicas, desconhecidas do publico, e a ser tido por pedante. Sahindo d’ahi, a minha ignorancia é completa. E não vou, está claro, aos cincoenta annos, munir-me de noções que não obtive na mocidade.

Não obtive, porque ellas não me tentavam e porque me orientei num sentido differente. O meu fito na vida foi apossar-me das terras de S. Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçador, introduzir nestas brenhas a pomicultura e a avicul-