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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/37

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S. BERNARDO
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mente sobre votos. Dirigi amabilidades ás filhas delle, duas solteironas, e lamentei a morte da mulher, excellente pessoa, caridosa, amiga de servir, sim senhor. Mendonça, espantado, perguntou onde eu tinha visto d. Alexandrina.

— Faz tempo. Fui morador do velho Salustiano. Arrastei a enxada, no eito.

As moças acanharam-se, mas o pae achou que eu procedia com honestidade revelando francamente a minha origem. Depois queixou-se dos vizinhos (nenhum se dava com elle).

— Ha por ahi umas pestes que principiaram como o senhor e arrotam importancia. Trabalhar não é deshonra. Mas se eu tivesse nascido na poeira, porque havia de negar?

Tentou envergonhar-me:

— Trabalhador alugado, hein? Não se incommode. O Fidelis, que hoje é senhor de engenho, e conceituado, furtou gallinhas.

— Emquanto elle tesourava o proximo, observei-o. Pouco a pouco ia perdendo os signaes de inquietação que a minha presença lhe tinha trazido. Parecia á vontade catando os defeitos dos vizinhos e esquecido do resto do mundo, mas não sei se aquillo era tapeação. Eu me insinuava, discutindo eleições. É possivel, porém, que não conseguisse enganal-o convenientemente e que elle fizesse commigo o jogo que eu fazia com elle. Sendo assim, acho que representou bem, pois cheguei a capacitar-me de que elle não desconfiava de