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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/66

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Encontrei Margarida sentada numa esteira, riscando os tijolos com carvões.

— Mãe Margarida, como vai a senhora?

Tentou endireitar o espinhaço emperrado e, antes de lançar-me os olhos brancos, reconheceu-me pela voz.

— Aqui gemendo e chorando, meu filho, cheia de peccados.

Peccados! Antigamente era uma santa. E agora, miudinha, encolhidinha, com pouco movimento e pouco pensamento, que peccados poderia ter? Como estava com a vista curta, falou sem levantar a cabeça, repetindo os conselhos que me dava quando eu era menino. Uma fraqueza apertou-me o coração, approximei-me, sentei-me na esteira, junto della.

— Mãe Margarida, procurei a senhora muito tempo. Nunca me esqueci. Foi uma felicidade encontral-a. E carecendo de alguma coisa, é dizer. Mande buscar o que for necessário, mãe Margarida, não se acanhe.

Olhou com espanto as cadeiras, a mesinha, a lampada electrica, os moveis do quarto proximo.

— Para que tanto luxo? Guarde os seus troços, que podem servir. Em cama não me deito. E quem dá o que tem a pedir vem.

— Não faz mal, mãe Margarida. Esteja socegada, durma socegada. Faltando lenha para 0 fogo, avise. Não deixe o fogo apagar-se, que as noites estão frias.