tempo. Uma tarde surprehendi no oitão da capella (a capella estava concluida; faltava pintura) Luiz Padilha discursando para Marciano e Casimiro Lopes:
— Um roubo. É o que tem sido demonstrado categoricamente pelos philosophos e vem nos livros. Vejam: mais de uma legua de terra, casas, mata, açude, gado, tudo dum homem. Não esta certo.
Marciano, mulato esbodegado, regalou-se, entronchando-se todo e mostrando as gingivas banguelas:
— O senhor tem razão, seu Padilha. Eu não entendo, sou bruto, mas perco o somno assumptando nisso. A gente se mata por causa dos outros. É ou não é, Casimiro?
Casimiro Lopes franziu as ventas, declarou que as coisas desde o começo do mundo tinham dono.
— Qual dono! gritou Padilha. O que ha é que morremos trabalhando para enriquecer os outros.
Sahi da sacristia e estourei:
— Trabalhando em que? Em que é que você trabalha, parasita, preguiçoso, lambaio?
— Não é nada não, seu Paulo, defendeu-se Padilha, tremulo. Estava aqui desenvolvendo umas theorias aos rapazes.
Atirei uma porção de desaforos aos dois, man-