Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/143

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— Está bom!

Dizendo isto com um tonzinho de arrufada, Leonor se absorveu completamente no trabalho, apesar de estar quase escuro. A matrona continuou:

— Agora, porque nega você, não sei. Não é tão natural que seu marido, vencido de saudades, quebre os protestos de esquivança e espie as ocasiões de ver sua esposa e senhora? Assim praticava-se antigamente. As damas encerradas em seu castelo viam às vezes passar um cavaleiro misterioso, de viseira caída; ou então à noite calada, pelo claro da lua, ouviam alguma serenata embaixo da sua torre. Batia o coração à castelã: "Quem será?" perguntava baixinho para a aia. E ficava naquele sobressalto da dúvida, se porventura seria o esposo que tornava, ou algum outro cavaleiro enamorado de sua beleza, que neste vai e vem da esperança é que estava o maior gosto. Qual era naquele tempo o marido que depois de uma ausência entrava em casa, como hoje, tão sem graça, que a gente já sabe o dia e hora em que chegam e a cara que trazem?

— Mas, então, nesse tempo as esposas viviam sempre ausentes, ou ainda pior, desquitadas de seus maridos?