— Que te aconteceu por lá, que me pareces um farricoco, carregando tua própria tumba, pois a cara que trazes não é doutra cousa? disse o Nuno ao poeta com a sua costumada galhofa, que desta vez era o disfarce da comoção ao ver o semblante abatido do amigo.
— E não te enganas, Nuno! É uma tumba, o que estás vendo e não mais o infeliz que ontem era. É a tumba de uma alma que nasceu para a dor, e não viveu senão para começar desde o primeiro instante a morrer aos poucos. Uma esperança a consolava na sua agonia e a prendia a este mundo por um tênue fio de ouro. Esse fio rompeu-se, e a alma acabou por finar-se.
Nuno abraçou-o com efusão.
— Mas dize-me, que houve que assim te mortifica?
— Belisa aborrece-me.
— Juro eu que não!
— Aborrece-me, e tem razão, porque a ofendi.
Ia o Lisardo referir ao amigo sua desventura, quando apareceu no saguão, onde já então se achavam os dois moços, D. Lourença, que andava no tráfego da casa, dispondo o agasalho para os acostados de seu primo Leonardo Bezerra, que lhe pediu o aboletasse ali até a noite.
Avistando o poeta, repuxou-se a barbelha de D. Lourença, com o assomo imperioso que tomava o seu colo nos