Acompanhara Leonor com a vista ao seu tope azul até o momento de o levar aos lábios o cavalheiro; então uma onda de rubor lhe subiu ao rosto. Foi quando tornou a si desse desmaio que reparou a furto no galante cavalheiro, e não se pôde esquivar de achá-lo gentil e airoso.
Mas, agastada pela vergonha que lhe causava, não repôs nele os lindos olhos negros, ainda que não deixou de volver-lhe uma e muitas vezes a vista de relance.
Nessa hora decidiu-se o destino de Vital Rebelo.
Outras donzelas tinham o Recife e Olinda, e das mais formosas, que suspiravam entre as persianas do balcão vendo passar no seu garboso ginete o prendado mancebo, e cuja mão de esposa bastaria um desejo seu para obtê-la.
Mas havia ele de prender-se àqueles negros olhos, que, se lhe prometiam meigos rendimentos, deviam custar-lhe tantas ânsias e aflições, como lhe estavam reservadas na triste sina de amante, que depois de esposo, tornou ao que era, porém desventurado.
Desde aquela tarde de Corpo de Deus avistou-se Vital muitas vezes com Leonor, ou no bakão da casa, ou na Sé em hora de missa, ou na rua por entre as cortinas do palanquim; e parecia-lhe que de cada vez se apagava aquela esquivança, como que de princípio