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Helena proferiu estas palavras num estado de exaltação que até ali se lhe não vira. Em vão Camargo procurou duas ou três vezes interrompê-la, receoso de que a ouvissem fora, porque a moça tinha levantado a voz. Helena não obedeceu; não viu sequer o gesto suplicante do médico. O seio, castamente velado pelo corpinho, que subia até o pescoço, estava ofegante e onduloso como a água do mar. A última palavra saiu-lhe como um soluço. Camargo sentiu-se surpreendido com aquela explosão de ternura. Era evidente que ele esperava outra coisa. Seguiu-se um breve silêncio, durante o qual Helena mordia a ponta do lenço, como para conter a palavra que lhe tumultuava no coração. O médico prosseguiu enfim:

— Ninguém lhe pede que a esqueça, disse ele, todos respeitam esses sentimentos de piedade filial. O passado morreu, e o menos que se deve aos mortos é o silêncio. A senhora tem o direito de lhe dar o amor e a saudade. Mas falemos dos vivos; e perdoe-me se lhe toquei, sem querer, em tão dolorosa recordação.

— Não! não é dolorosa! disse ela, abanando a cabeça.

— Falemos dos vivos. Não está certa do amor de sua família?