Página:Helena.djvu/39

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viu-os chegar, ao cabo desse tempo, familiares e amigos, como se houvessem sido criados juntos. As sobrancelhas grisalhas da boa senhora contraíram-se, e o lábio inferior recebeu uma dentada de despeito.

— Titia... disse Estácio jovialmente; minha irmã conhece já a casa toda e suas dependências. Resta somente que lhe mostremos o coração.

D. Úrsula sorriu, um sorriso amarelo e acanhado, que apagou nos olhos da moça a alegria que os tornava mais lindos. Mas foi breve a má impressão; Helena caminhou para a tia, e pegando-lhe nas mãos, perguntou com toda a doçura da voz:

— Não quererá mostrar-me o seu?

— Não vale a pena! respondeu D. Úrsula com afetada bonomia; coração de velha é casa arruinada.

— Pois as casas velhas consertam-se, replicou Helena sorrindo.

D. Úrsula sorriu também; desta vez porém, com expressão melhor. Ao mesmo tempo, fitou-a; e era a primeira vez que o fazia. O olhar, a princípio indiferente, manifestou logo depois a impressão que lhe causava a beleza da moça. D. Úrsula retirou os olhos; porventura receou que o influxo das graças de Helena lhe torcessem o coração, e ela queria ficar independente e inconciliável.