Página:Histórias diversas (Mml obr0050).pdf/39

Wikisource, a biblioteca livre
LAGARTAS E BORBOLETAS
41

de cima e plaf!... caiu bem em cima dela e do aparelho, cobrindo-os quase totalmente!

— Acudam! — berrou Narizinho.

Emília estava soterrada! Dela só se viam os dois cambitos em movimentos no ar... Era uma jaca das maiores, de modo que para salvá-la Pedrinho teve de ir buscar um enxadão. Depois que "removeu os escombros", a figurinha da Emília apareceu — mas em que estado!...

— Veja, vovó, como ficou esta coitada! — exclamou a menina erguendo-a e tentando pô-la de pé.

Pobre Emília! Impossível imaginar-se coisa mais deplorável. Empapada de caldo de jaca, com pedaços de favos agarrados ao corpo, com a cara, o cabelo e as mãos cobertos de visgo, daquele terrível visgo que os moleques usam para pegar passarinhos, ela não podia falar e quase não podia respirar. E como a única coisa que dissolve visgo de jaca é azeite ou gordura, tia Nastácia correu à cozinha e voltou com uma frigideira de torresmos. E esfregou aqueles torresmos na cara da ex-boneca, dizendo: "E tenho que andar depressa, Sinhá, senão a coitadinha morre 'asfixada'. Já está ficando roxa de tanta falta de ar..."

Emília escapou da morte graças aos torresmos de tia Nastácia, mas ficou em tal estado que teve de ir para a cama, toda engordurada e dolorida, com um gosto de jaca podre que a penetrava até ao fundo da alma...

Esse "soterramento" pela jaca foi o único desastre sério que Emília sofreu em toda a sua vida...

Não adicionar a ilustração.