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— Porque se dou um passo com o pé direito e avanço sete léguas, e em seguida dou um passo com o pé esquerdo e só avanço uma, o passo seguinte do pé direito já não poderá ser de sete léguas e sim também de uma. E minhas botas de sete léguas ficam assim reduzidas a botas de uma légua — o que é uma vergonha.

— Quer dizer que a bota esquerda atrasa, como um relógio...

— Isso mesmo. E vim a esta cidade para ver se algum sapateiro a conserta.

— Não sei, não sei, Polegar. Estes sapateiros daqui só sabem botar meias solas e saltos. Não sei se saberão consertar atraso de bota. Vai ficar hospedado neste hotel?

— Sim.

— Por que escolheu justamente este?

— Por ser o mais alto da cidade — trinta andares. Quero ficar bem lá em cima. Gosto muito de cuspir em gente, embora saiba que isso é uma grande falta de educação. Mas ficando no último andar, satisfaço o meu gosto e não causo mal a ninguém.

— Por quê?

— Porque o meu cuspinho é tão pequeno que seca no ar antes de alcançar alguém.

Achei muita graça naquela ideazinha e entrei no hotel para registrar o pequeno hóspede. O gerente assombrou-se quando soube que o apartamento que pedi no trigésimo andar não era para mim, e sim para aquela figurinha de meio palmo de altura, que eu havia largado em cima do balcão e se sentara na beira de uma caixa de fósforos. Expliquei-lhe o caso: "É o famosíssimo Pequeno Polegar, que veio ver se encontra quem lhe conserte uma bota que está atrasando." O gerente fez cara de quem não entendeu coisa nenhuma, e com ar abobalhado foi abrindo o livro de registro.

— Nome? — perguntou e eu transmiti a pergunta ao personagenzinho, o qual respondeu de moto que também a mim me causou surpresa.

— Meu nome é Nicolau Ildefonsius Nicomédio.

— Nacionalidade e idade?