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MONTEIRO LOBATO

— Não é boneco, deusa! — explicou Emília. — É personagem.

Flora não apanhou lá muito bem a diferença e estiveram uns minutos debatendo o assunto. Por fim disse:

— Seja boneco ou personagem, acho-o muito engraçadinho. Faço o negócio. Troco-o por seis ninfas. Só não sei como fazer chegar essas ninfas ao tal Picapau...

— Isso não me preocupa — respondeu Emília. — Tenho uma boa dose do Pim aqui no bolso — e sacando um canudinho de taquara, tapado com um batoque de pau — obra do canivete de Pedrinho — explicou as maravilhas do Pim, deixando a deusa de boca aberta. Apesar de deusa, Flora sentiu inveja daquela criaturinha humana, possuidora de semelhante talismã. Seria humana ou alguma deusa também? Deusa de algum outro mundo? E começou a olhar para Emília com respeito e certo medinho.

Mas iria Emília realmente trocar as ninfas pelo Visconde, um velho amigo seu? Não! Jamais semelhante coisa lhe passara pela cabeça. A idéia de Emília era fazer o negócio e entregar um Visconde "imitação", feito por tia Nastácia — ou um fac-símile. E combinou com a deusa: "Agora nós vamos com o lote de ninfas, depois o Visconde vem sozinho."

— Por que já não o deixa aqui? — perguntou a deusa.

— Porque ele tem de arrumar os seus logaritmos e dizer adeus aos parentes.

— Que parentes tem?

— As palhas e os grãos de milho que há lá no reino. Tem também de despedir-se dos fubás, das maisenas, das canjicas, das pamonhas, dos curaus...

A deusa Flora admirou-se de uma figurinha como o Visconde ter uma parentela tão grande...

Tudo combinado, operou-se a partida. Flora convocou todas as ninfas de seu Reino e passou-as em revista, levando Emília pela mão para que escolhesse as seis. O trato fora de seis ninfas "escolhidas". A fim de que as ninfas escolhidas não desconfiassem, quando ela gostava de uma, dizia para a deusa na língua do P: