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Capítulo V

Aspectos literários do século XVIII

Literariamente, o século XVIII se caracteriza pela escassez de poetas na sua primeira metade, pela fundação das academias literárias do fim do seu primeiro quartel aos começos do último, pela abundância da sua literatura histórica, e, o que principalmente o ilustra, pelo advento, no seu terço final, de um grupo de poetas, que foram os melhores no período colonial.

Excluído Antônio José da Silva, o engenhoso e mal-aventurado judeu fluminense, queimado pela Inquisição de Lisboa, em 1739, nenhum poeta de algum valor se nos depara no Brasil naquele momento. Antônio José, de brasileiro só teve, porém, o acidente do nascimento. Sua formação e atividade literária foi toda portuguesa, e não há no seu estilo, quer de prosador quer de poeta, bem como na sua inspiração, nada que não seja genuinamente português. E o que porventura não é português é antes italiano (como as coplas de que misturou as suas óperas) ou espanhol do que brasileiro.

Não houve nesse tempo nenhum poeta equivalente a Gregório de Matos ou mesmo a Botelho de Oliveira. É, entretanto, crescido o número de escrevedores e versificadores do século XVIII, de que se encontram menções. Só Jaboatão, e unicamente na sua ordem franciscana, nomeia perto de trinta e lhes menciona as obras, muitas impressas, outras manuscritas: de devoção, panegíricos de santos,