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Capítulo VI

A plêiade mineira

Das capitanias brasileiras era certamente a de Minas a que mais motivos dava ao surto deste sentimento e aspiração. Nos povos como nos indivíduos, o principal estímulo à autonomia é a consciência, que lhes dá a abastança, de se poderem prover a si mesmos. Descobertas na segunda metade do século XVII, as minas que denominaram a região, e grandemente incrementada nesta a mineração do ouro e do diamante, aflui-lhe das capitanias vizinhas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, toda a gente, e foi muita, para quem aquelas julgadas fáceis riquezas eram irresistível chamariz. Assim se começou a fazer a população da Capitania de Minas Gerais, desde então a mais avultada, a mais densa e logo depois a mais rica do Brasil. Como a riqueza cria a cultura, pelas facilidades que lhes proporciona, também a mais culta.

Por disposição geográfica do país, e pela variedade dos sítios minerais descobertos, a vida local, longe de se concentrar exclusivamente numa cidade capital, dispersava-se por vários pontos importantes, Sabará, São João del Rei, Diamantina, Mariana, Serro. Com as suas escolas avulsas, seminários episcopais, colégios de jesuítas ou aulas de outros religiosos, também atraídos pelo engodo das minas, eram tais vilas e cidades outros tantos pequenos focos de instrução, e contribuíam para difundi-la pelas comarcas cujo centro eram e pela capitania. Valeriam ainda porventura mais como estímulo do espírito de autonomia, do municipalismo,