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mais tarde o título de escudeiro fidalgo da Casa Real (1787) e o hábito de Santiago da Espada. Emprego e mercê lhe davam uma renda anual que não só o punha ao abrigo de privações, mas lhe facultava viver com relativa largueza. Aos cinqüenta e quatro anos, ou perto deles, faleceu em Lisboa, solteiro, a 31 de julho de 1795.

Pouco adequado a um poema épico segundo os moldes clássicos, era o assunto de Basílio da Gama: a guerra que Portugal, auxiliado pela Espanha, fez aos índios dos Sete Povos das Missões do Uruguai, rebelados contra o tratado de 1750, que os passava ao domínio português, tirando-os aos seus padres os jesuítas que os haviam descido, amansado e aldeado, e os despejava de suas terras. Tal tema, ainda exagerado por uma imaginação épica, daria apenas um episódio em poema de mais vulto. Demais faltava ao poeta o recuo do tempo para uma possível idealização do acontecimento, cujos autores ainda viviam. A epopéia tinha, pois, de ser uma simples narrativa histórica em versos de fatos recentíssimos, a que uma animosidade contra os jesuítas, que se manifestava já na Espanha e Portugal, e iria breve resultar nos atos de Pombal e de Aranda, dava um desmesurado relevo. Limitado pela realidade material do acontecimento, ainda a todos presente, peado pela contemporaneidade das personagens, de todos conhecidas, não podia o poeta dar à sua imaginação a liberdade e o alor necessários à idealização do seu tema. Pelas circunstâncias da sua composição, tinha fatalmente o seu poema de lhe sair limitado no tempo e no espaço, e sobretudo despido das roupagens e feições propriamente épicas. Varnhagen notou que a ação não chega a durar um ano, e o leitor atento observará como o poeta se cinge à realidade prosaica dos sucessos.