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Saldanha, com a falsa eloqüência que de bom grado confundimos com poesia, celebra os feitos e vultos patrícios com reminiscência, epítetos, figuras e apelidos clássicos e pagão. É «a fatigante ênfase do ditirambo histórico», de que fala Morley, aqui vulgaríssima. A fecundidade poética de alguns é assombrosa. Ladislau Titara, de 1827 a 1852, publicou oito tomos em formato de 8.º de Obras poéticas, somando 1819 páginas de versos, e o seu irmão Gualberto, em seis anos, quatro tomos do mesmo formato. Que exemplo a futuros escritores!

À imitação do seu Horácio, que sabem talvez de cor, mas cujo íntimo sentimento mal alcançam, e de cujo talento andam afastadíssimos, e seguindo velhos hábitos arraigados dos poetas portugueses, são-lhes motivos de inspiração fatos e datas de pessoas gradas, a cuja benevolência armam com lisonjas metrificadas, elogios poéticos, epitalâmios por casamentos, nascimentos e quejandos.

Sousa Caldas é certamente o melhor deles todos, o mais vigoroso lírico dos predecessores imediatos do Romantismo. Ele fez um trabalho considerável de erudito e poeta traduzindo em vernáculo os Salmos atribuídos a Davi. Algumas dessas traduções não são em verdade indignas dos louvores que é de praxe fazer-lhes. Não teria, porém, idéia muito exata da poesia hebraica quem por elas houvesse de julgá-la. Mas, ainda excelente, perderia o lavor do nosso patrício muito do seu valor pelo mesmo desinteresse com que hoje a maioria dos leitores se dispensam de ler traduções dos poemas de pura invenção religiosa e de uso devoto. Conquanto se digam católicos, não é certamente neles que procuram nem acham a emoção estética de que acaso sintam necessidade. Os Salmos de Davi, traduzidos pelo padre Sousa Caldas para língua falada por muitos