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belo, a inventiva pobre, balda de novidades ou grandeza, a língua mesquinha e vulgar. Entretanto críticos houve que o acharam digno de rivalizar com o Paraíso Perdido, de Milton, e a Messíada, de Klopstock, e não duvidaram de qualificá-lo de «poema eminentemente nacional» e de considerá-lo como «um dos monumentos que nos legou a geração passada (do princípio do século XIX) para a formação da nossa literatura». Chamar-lhe «poema eminentemente nacional», porque introduziu nas suas descrições frutas, plantas e animais do Brasil e alguns aspectos da natureza brasileira, é equivocar-se sobre o sentido da expressão. O vezo de cantar as cousas da terra, de nomeá-las, citá-las ou descrevê-las, às vezes comovidamente, mas também às vezes sem emoção alguma, era velho na nossa poesia. Vinha, conforme mostramos, dos fins do século XVI; praticou-o Durão no Caramuru, cultivaram-no alguns dos poetas mineiros e outros. Tal sestro revia o despontar do sentimento nativista e o seu sucessivo desenvolvimento. Ao tempo de Fr. Francisco de S. Carlos era já tão comum o emprego desse recurso poético, que nada tinha de particularmente notável. Tanto mais que o usou o franciscano poeta sem a menor distinção. Apenas continuava uma tradição criada, da qual há exemplos noutros poetas seus contemporâneos deste infausto período das nossas letras, como na Discrição curiosa, do ruim poeta mineiro Joaquim José Lisboa. E como a continuava sem a relevar por quaisquer virtudes de fundo ou de forma, fazendo apenas nomenclaturas áridas, não sabendo tirar desse expediente nenhum partido estético, não lhe pode servir isso de recomendação ao seu insípido poema. O que era nos seus predecessores novidade interessante, reveladora de um sentimento, uma emoção, uma inspiração nova na poesia portuguesa, era nele simples repetição, não levantada por algum talento superior de expressão.

Destas duas dúzias de poetas menores, o único, além de Sousa Caldas, que porventura se destaca por uma inspiração mais sincera e dons de expressão que o extremam,