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ficar alheio aos seus escritores e estes aos seus patrícios, por motivo da descorrelação entre a língua falada por uns e a escrita por outros.

E é talvez esta a mais íntima causa da falta de simpatia -agora talvez maior do que dantes- entre os nossos escritores e o nosso povo. Nesta sociedade descomedidamente igualitária, como talvez outra não exista, o escritor e o público vivem inteiramente alheados um do outro pelo pensamento e pela expressão. A reação vernaculista dos maranhenses durante justamente esta primeira fase romântica, não obstante os preclaros modelos de Sotero dos Reis, João Lisboa, Odorico Mendes e Gonçalves Dias, ficou estéril. Destes nomes, o único que sobrevive na memória do povo é o de Gonçalves Dias, o poeta dos versos simples e populares da Canção do Exílio.

Também o segredo da popularidade persistente dos poetas da segunda geração romântica não está somente em que eles foram os de mais rico e sincero sentimento que jamais tivemos, mas em que o exprimiram numa língua e forma poética ao alcance de todos, sem artifício de métrica nem arrebiques de estilo. O mesmo acontece com os principais romancistas dessa fase. Macedo e Alencar, como o documentam os registros da Biblioteca Nacional e vos informarão os livreiros e mais que tudo o provam as suas constantes reimpressões, continuam a ter mais leitores do que os romancistas de hoje, apesar de não terem por si os reclamos do noticiário camaradeiro e das parcerias de elogio mútuo.

Os nossos escritores da primeira geração romântica, se não menos artistas, são também em suma menos artificiosos que os do mesmo período em Portugal. A sua arte literária, quando a têm, é ingênua e canhestra, o que lhes dá ao estilo algo, não de todo desagradável, dos primitivos. Com exceção do pomposo Porto Alegre e de certos poetas menores, como Norberto em algumas das sua infelizes tentativas épicas e dramáticas, os melhores deles escrevem se não singelamente, o que parece incompatível com o nosso gênio