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Capítulo IX

Magalhães e o Romantismo

Favorecido pela autonomia de fato resultante da mudança da Corte portuguesa para cá, pelo apartamento intelectual da metrópole começado a operar com a criação de faculdades, escolas, institutos de instrução e da imprensa, e, sobretudo, pela total independência política proclamada em 1822, e efervescência cívica por ela produzida, manifestou-se no Brasil, por volta de 1840, o movimento de reforma literária chamado o Romantismo.

É aos Suspiros poéticos e saudades, coleção de poesias publicada em Paris, em 1836, por Domingos José Gonçalves de Magalhães, que ele próprio, os críticos e leitores contemporâneos atribuíram o início do Romantismo aqui. Razoavelmente se não pode discordar deste conceito. O leitor de hoje, entretanto, só com esforço e aplicação encontrará nesse livro o que plenamente o justifique. E somente da comparação com o que era aqui a poesia antes dele, lhe virá a certeza de que não é errado.

Tem um duplo caráter a inspiração desses poemas, patriótico e religoso. O patriotismo, significando com esta palavra não só o amor e devoção da terra, mas o sentimento da sua distinção de Portugal, já era, desde os mineiros, e aumentada pelos poetas difíceis de dominar que lhes sucederam, a feição particularmente notável da poesia brasileira. Era aliás apenas o desenvolvimento do nativismo nela manifestado desde o século XVII, que se acentuava na proporção do progresso do país. A religião, ou melhor a